
Na aula de geografia falávamos em países subdesenvolvidos e no comportamento de pessoas que vivem na miséria. Um dos alunos comentou que via muitas crianças na rua pedindo esmolas e que presenciou uma delas cheirando cola de sapateiro. Dizia ele que seus pais não dariam mais esmolas, já que, ao recebe-las, compravam cola para se drogar.
Comentei que o grande problema da nossa sociedade era a má distribuição de renda, e que essas crianças eram vítimas de tudo isso. Falei também que muitas vezes elas cheiravam cola de sapateiro para passar a fome que estavam sentindo e por isso acabavam ficando viciadas.
No outro dia, para o meu espanto, a mãe de um outro aluno que também assistira a aula do dia anterior, procurou a coordenadora de estudos sociais para dizer que seu filho, que era obeso e comia muito, tinha pedido para que ela comprasse cola de sapateiro para ajudar no regime que ele estava tentando fazer e não tinha sucesso, e que a professora de geografia tinha falado nisso em sala de aula.
A mãe, assustada, e com toda razão, queria saber em que contexto eu tinha tocado nesse assunto.
Relatei para a mãe o que tinha acontecido e ela entendeu.
Resolvi então sair um pouco do assunto proposto para aquela sala, para fazer um trabalho sobre as consequências do uso de drogas.
Foi aí que senti a complexidade de trabalhar com adolescentes.....